A busca pelo elixir da juventude acompanha a humanidade desde o século 5, quando os alquimistas se dedicavam a encontrar um fórmula mágica capaz de conter os efeitos da passagem do tempo e curar as doenças associadas ao envelhecimento.
De lá para cá, apesar de todos os avanços da medicina, a maioria de nós segue obcecada (em vão) por uma receita milagrosa que prolongue o prazo de validade de nossa existência — com o frescor e o vigor da juventude, claro. A bala de prata de agora é a molécula NAD+.
Sucesso nas redes sociais, usada por celebridades como Hailey Bieber, Kendall Jenner e Gwyneth Paltrow, a substância conquista um número cada vez maior de seguidores. “Vou tomar NAD pelo resto da minha vida e nunca vou envelhecer”, anuncia a mulher do cantor Justin Bieber para seus 55 milhões de seguidores no Instagram.
Ao custo de US$ 300 a US$ 2 mil mensais, o tratamento com o composto costumava ser feito com injeções, soro e até pílulas. Recentemente, porém, passou a ser oferecido também sob a forma de adesivos decorados na forma de estrela, lua, sol, caracol, chama… atraindo um público cada vez mais jovem. É um perigo.
Sigla em inglês para Dinucleotídeo de Nicotinamida e Adenina, a NAD+ é uma coenzima essencial à vida. Produzida no fígado, ao chegar no interior das células, ela atua na mitocôndria, a estrutura responsável pela produção de energia e pelo reparo dos danos celulares, principalmente no DNA.
“Isso significa que, quanto mais NAD+ você tiver no sangue, mais você está reparando os danos celulares causados por diversos fatores, desde estresse, desnutrição, entre outros”, explica ao NeoFeed o geriatra Alberto Frisoli Júnior, professor da Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Como todos os sistemas do organismo, com a idade, a síntese de NAD+ naturalmente diminui. Em casos específicos, ela pode se mostrar reduzida, como acontece com os portadores de inflamação decorrente dos maus hábitos, como alimentação desequilibrada, sedentarismo e abuso de álcool, entre outros fatores de risco.
Os sintomas da mais comum falta da coenzima, diz o médico, são falta de disposição e fraqueza. Porém, como esse problemas também se enquadram em deficiências de diversas vitaminas, é quase impossível cravar que o problema está na falta de NAD+. Soma-se a isso a falta de um teste que meça a concentração da substância no organismo.
A descoberta da importância do composto é muito recente. Os estudos sobre a coenzima só se intensificaram há uma década, tornando todo o processo de detecção e tratamento ainda muito incipiente.
Mas quando a reposição é indicada, a suplementação é feita por precursores de NAD+. Ou seja, ativos projetados para induzir a fabricação pelo organismo. “Não adianta colocar uma gasolina super aditivada em um motor ruim, ele não vai funcionar melhor”, diz Frisoli. “Ou seja, se a célula é doente, ela vai produzir pouco NAD+, independente da quantidade de precursor injetada ali.”
Se é assim na prática médica, quando todos os cuidados são tomados, o que dirá da reposição para fins de rejuvenescimento? Não existe nenhum estudo científico que comprove a eficácia da molécula entre jovens, reforça o professor da Unifesp.
E pior, o uso abusivo pode causar o aquecimento das células, levando-as à morte. De olho nos problemas, nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), correspondente à nossa Anvisa, restringiu a venda de certos suplementos da coenzima por falta de estudos sobre o assunto.
“No fim do dia, não existe mágica. Nada supera uma vida saudável, que envolve socialização, alimentação correta, boas noites de sono e uma boa rotina de exercícios”, defende Frisoli.
Mercado de bem-estar em alta
A suplementação da NAD+ é apenas mais uma novidade no mercado de bem-estar, chamado mundialmente de wellness. De acordo com o Global Wellness Institute, entre 2020 e 2022, esse mercado movimentou cerca de US$ 5,6 trilhões mundialmente e até 2027, esse montante deve atingir US$ 8,5 trilhões.
A febre das canetas emagrecedoras, assim como o botox e as cirurgias plásticas também fazem parte desse mercado em ascensão e, de fato, muitas dessas inovações trazem efeitos nítidos para seus usuários.
Porém, é preciso entender que, mesmo sendo uma área próxima à saúde, nem todos os compostos oferecidos nas redes sociais cumprem o que prometem.
“Existem muitas coisas boas surgindo no meio científico que efetivamente podem ajudar os pacientes a terem uma vida melhor e eu tenho muita confiança de que, com os milhões de dólares investidos, vamos ter avanços muito interessantes nos próximos anos”, diz Frisoli. “Porém, também existem muitas informações e produtos falsos no mercado, então é preciso sempre buscar por comprovações daquilo que estão te vendendo.”
Fonte ==> NEOFEED