Trump deixa gestantes em pânico com fake news de autismo – 23/09/2025 – Mariliz Pereira Jorge

A imagem mostra um evento na Casa Branca, onde um homem está falando ao microfone, possivelmente um líder político. Ele está vestido com um terno azul e uma gravata azul clara. À sua esquerda, há um homem com cabelo grisalho e uma camisa azul, e à direita, um homem com cabelo claro e uma gravata vermelha. Ao fundo, há uma pintura e a bandeira dos Estados Unidos.

Enquanto Donald Trump agitava a bandeira branca para Lula na ONU, sua equipe de saúde já havia declarado outra guerra —contra a ciência. O secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., decidiu ancorar a política pública em torno da gravidez em um estudo falho, incompleto, que relaciona o aumento dos casos de autismo ao paracetamol, em contradição com as diretrizes da comunidade médica internacional.

É irresponsabilidade elevada à enésima potência. Autismo é um transtorno complexo, com múltiplas causas genéticas e ambientais, e seu aumento recente também se explica por diagnósticos mais precisos. Mas a pressa política em “descobrir” uma explicação, para satisfazer o ego presidencial, fez do Tylenol o bode expiatório perfeito.

Resultado: gestantes em pânico e grupos de WhatsApp brasileiros fervilhando, enquanto parlamentares transformam fake news importada em capital político doméstico. É a ideologia vencendo o bom senso. Esse tipo de declaração é combustível para quem vive de conspiração.

Quando um secretário de saúde chancela um estudo capenga, depoimentos pessoais ganham peso de tese científica e diagnósticos tirados do nariz circulam como verdade absoluta. Em grupos de WhatsApp, o “ouvi dizer” passa a ter mais autoridade do que o Colégio Americano de Obstetrícia.

O problema não é apenas uma fake news a mais. Esta atinge mulheres grávidas, as mesmas que já convivem com desconforto, enjoo e insegurança. Tratar os desconfortos da gestação não é frescura, é essencial para que não evoluam para problemas que colocam em risco mãe e bebê. Ao lançar dúvidas sobre um dos poucos analgésicos considerados seguros, o governo Trump expõe mulheres à dor desnecessária, ao medo e, pior, ao risco de se automedicarem de forma equivocada.

O negacionismo de plantão gosta de posar de rebelde contra o “sistema”. Mas não há nada mais covarde do que usar o corpo feminino como laboratório de pânico moral. Se Trump quer brigar com a ciência, que escolha outro campo de batalha. Às mulheres, sobra decidir: ouvir a ciência ou virar cobaia de bravata política.


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Fonte ==> Folha SP

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