Tudo proteico: como o nutriente construtor de músculos dominou o mercado de alimentos e bebidas

Tudo proteico: como o nutriente construtor de músculos dominou o mercado de alimentos e bebidas

Tudo começou com os suplementos proteicos nos anos 1980. Atletas de alto rendimento recorriam a doses extras de proteína para acelerar a recuperação pós-treino e turbinar o ganho de massa muscular. Não demorou muito para que os produtos, em pó ou barrinhas, ultrapassassem as fronteiras do universo do esporte e ganhassem o mundo, com promessas de aumento da saciedade e de fortalecimento do sistema imunológico, entre tantas outras.

O mercado do mais famoso deles, o whey protein, em 2024, estava avaliado globalmente em US$ 9,78 bilhões. O Brasil, por exemplo, é o maior consumidor da suplementação à base da proteína do soro de leite da América do Sul, com 58% do mercado, indica levantamento realizado pela Mordor Intelligence.

De uns dois anos para cá, porém, o nutriente tem ido além. Tem-se agora a impressão de que não há vida saudável sem reforço proteico. E a nova crença, claro, vem impactando a indústria global de alimentos e bebidas.

De massas a doces, de sopas a iogurtes e até refrigerantes, foram “enriquecidos” com proteína e se tornaram “proteicos”. — por aqui, são R$ 2 bilhões anuais, conforme cálculos do Euromonitor.

E as marcas efetivamente estão se beneficiando do momento. A Danone, uma das pioneiras do novo boom da proteína, viu sua receita aumentar em 4,3% em 2024, impulsionada por iogurtes e bebidas proteicas. As vendas desses produtos na companhia saltaram de € 400 milhões para € 1 bilhão em 12 meses.

Nos Estados Unidos, país onde 64% da população deseja aumentar a quantidade de proteína consumida, segundo a empresa de pesquisa Hartman Group, a Nestlé lançou versões de sua pizza congelada com adição de proteína.

Nos supermercados do Reino Unido, os gastos com produtos enriquecidos com o nutriente ultrapassaram £ 143 milhões entre fevereiro de 2024 e 2025, quase o dobro do valor registrado nos três anos anteriores, indica a empresa de pesquisa de mercado Kantar.

No início, a suplementação de proteína era feita por produtos em pó ou em barrinhas

No Brasil, a marca de sorvetes artesanais carioca Momo Gelato foi uma das companhias a aderir à nova onda e lançou uma linha completa de sabores sem açúcar e com mais proteína, segmento que já representa 10% das vendas das lojas e 15% do consumo do delivery.

“Passamos o ano de 2024 desenvolvendo os seis sabores”, conta ao NeoFeed Walter de Mattos, sócio-proprietário da Momo. “O desafio era ter alto teor proteico, com ao menos 10 gramas para cada 100 gramas de gelato, sem açúcar, com os melhores adoçantes, mas sem traço no sabor, e que ficassem deliciosos.”

A Holy Foods, que nasceu fazendo sopas saudáveis, desenvolveu diversos pratos focados nos protein lovers. Com 20 gramas de proteína, livres de glúten, sem conservantes e enriquecidos com um mix de vitaminas e minerais, a linha de risotos funcionais é a novidade do portfólio da empresa.

Mas será que precisamos mesmo de proteína extra?

Nutriente essencial ao bom funcionamento do organismo, ela está envolvida na construção e regeneração de tecidos, na produção de enzimas e hormônios, no suporte ao sistema imunológico e no transporte de substâncias, entre outras muitas funções.

Até a invenção dos suplementos proteicos, tínhamos acesso às proteínas única e exclusivamente por meio da alimentação, sobretudo carnes, peixes, ovos, laticínios e leguminosas.

Frente à nova moda, a nutricionista Caroline Romeiro recomenda atenção. Muitos desses produtos oferecidos como proteicos são ultraprocessados, com alto valor agregado e, nem sempre, nutricionalmente superiores.

“É um movimento que precisa ser analisado com cuidado, pois mais proteína não necessariamente significa mais saúde”, diz a especialista.

Para Victor Machado, nutricionista com mestrado em obesidade e comportamento alimentar, é preciso observar quais são os reais benefícios, já que grande parte dos produtos ofertados no mercado tem uma quantidade irrisória de proteína, que não equivale nem a uma concha de feijão, e são vendidos a preços absurdos.

“O mercado tem se aproveitado bastante disso, se baseando na ideia de que as pessoas comem menos proteína do que deveriam, algo que normalmente não é verdade”, diz Machado.

Os estudos mais recentes mostram que um adulto comum deveria ingerir aproximadamente 1,2 grama a 1,6 grama de proteína por quilo de peso corporal por dia. Como essa quantidade pode variar de acordo com a saúde de cada pessoa, é recomendável sempre procurar a orientação de especialistas.

No caso dos idosos, para evitar a perda de massa magra, o consumo diário deve ser de no mínimo 1,2 grama por quilo de peso corporal, o que ajuda na conservação dos músculos, que se perdem com o passar dos anos.

Segundo Machado, mantendo uma alimentação saudável, com proteínas em todas as refeições, a maioria das pessoas já atinge esses índices diariamente, sem a necessidade de suplementação.

“Esses alimentos proteicos devem ser utilizados como uma alternativa para dias corridos, em que a pessoa comeu pouco ou não teve tempo de priorizar a alimentação”, diz Machado. “Tirando essas situações, nosso corpo normalmente não precisa desse tanto de proteína.”

Caroline explica que, na verdade, o excesso de proteína é altamente prejudicial. Segundo a nutricionista, o excesso proteico pode sobrecarregar os rins em pessoas predispostas, além de aumentar o risco de desidratação, alterações intestinais e desequilíbrios nutricionais — especialmente quando o consumo exagerado reduz a ingestão de outros grupos alimentares importantes. Como ela diz, “a moderação e o equilíbrio são fundamentais”.



Fonte ==> NEOFEED

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