Streaming domina o mercado musical, mas não representa venda de ingressos

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Fernanda Cappellesso

O streaming é, sem dúvidas, a maior revolução do mercado musical

nas últimas décadas. Serviços como Spotify, Apple Music e Deezer dominaram o consumo global de música, tornando-se responsáveis por mais de 65% da receita da indústria fonográfica mundial, segundo relatório de 2023 da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica). No Brasil, o streaming responde por 87% do faturamento do setor musical, destacando-se como a principal fonte de renda de artistas e gravadoras. No entanto, essa popularidade não se traduz diretamente em público para shows, revelando uma dualidade no mercado musical atual.

Desde a popularização do streaming no início dos anos 2010, a forma como ouvimos música mudou drasticamente. O Spotify, líder do segmento, ultrapassou a marca de 550 milhões de usuários ativos em 2023, sendo 200 milhões assinantes pagos. Globalmente, a receita gerada por plataformas de streaming chegou a US$ 17,5 bilhões no último ano, consolidando esse modelo como o principal motor da indústria musical.

O streaming democratizou o acesso à música e possibilitou que artistas independentes alcançassem públicos globais. Ferramentas de análise de audiência e algoritmos permitiram que músicos adaptassem suas estratégias de lançamento e marketing, tornando-se mais próximos de seus fãs. No entanto, enquanto as plataformas entregam milhões de reproduções, a realidade do mercado de shows conta uma história diferente.

Embora o streaming seja uma vitrine poderosa, a conversão de ouvintes digitais em público pagante para shows continua sendo um desafio. Artistas que lideram rankings e acumulam milhões de streams muitas vezes enfrentam dificuldades para lotar casas de espetáculos e arenas. O sucesso em plataformas digitais, que muitas vezes está associado a playlists e tendências virais, nem sempre reflete uma base de fãs engajada o suficiente para investir em ingressos.

Esse fenômeno é ainda mais evidente entre artistas que explodem rapidamente no streaming. Em alguns casos, a fama virtual vem antes da consolidação de uma carreira estruturada, e a falta de experiência em palco, aliada à ausência de um relacionamento profundo com o público, resulta em baixa procura por ingressos. Outro fator é o comportamento dos ouvintes, que consomem músicas de forma fragmentada e não necessariamente se conectam emocionalmente com o artista por trás das faixas.

Enquanto o streaming garante visibilidade e royalties para os artistas, o valor pago por reprodução continua sendo tema de críticas. A remuneração média do Spotify, por exemplo, é de cerca de US$ 0,0032 por stream, o que significa que um artista precisa acumular milhões de reproduções para obter uma receita significativa. Por outro lado, os shows oferecem uma margem de lucro mais atraente: ingressos, merchandising e parcerias podem compor até 70% do faturamento total de alguns músicos.

Artistas consagrados, como Taylor Swift e Beyoncé, demonstram que uma carreira bem gerenciada pode transformar números de streaming em ingressos esgotados. No entanto, para músicos emergentes, especialmente aqueles que dependem exclusivamente de reproduções digitais, o caminho para lotar arenas é mais desafiador.

O cenário atual evidencia que o sucesso no streaming deve ser visto como parte de uma estratégia mais ampla. O engajamento nas redes sociais, a construção de narrativas autênticas e a entrega de performances ao vivo memoráveis são elementos cruciais para transformar a popularidade digital em público cativo. Turnês bem planejadas, que levem em consideração o perfil dos ouvintes e os mercados-alvo, também são essenciais para aumentar a conversão de fãs virtuais em espectadores.

Além disso, os artistas têm buscado diversificar suas fontes de receita. O licenciamento de músicas para filmes, séries e comerciais, além de eventos patrocinados, oferece alternativas para equilibrar os baixos rendimentos das plataformas digitais. Parcerias com marcas e experiências exclusivas, como meet and greets, são outras formas de criar uma conexão mais profunda com os fãs e aumentar os ganhos.

O streaming é a força motriz da indústria musical moderna, mas não é o único indicador de sucesso para artistas. Popularidade digital não é sinônimo de ingressos vendidos, e a consolidação de uma carreira sustentável depende de estratégias que combinem visibilidade online com engajamento no mundo real. No fim, enquanto o streaming democratiza o acesso à música, os palcos continuam sendo o verdadeiro teste da conexão entre artistas e seus públicos.

*Fernanda Cappellesso é jornalista e publicitária especializada em MKT digital, SEO e assessoria de imprensa

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