Um novo passo na avaliação da formação médica – 24/04/2025 – Priscilla Bacalhau

Um novo passo na avaliação da formação médica - 24/04/2025 - Priscilla Bacalhau

Medicina é uma profissão essencial em qualquer sociedade. Em algum momento da vida, todos vão precisar de atendimento médico. Para quem não tem formação na área ou um médico na família, escolher um bom profissional pode ser um desafio —afinal, é difícil avaliar a formação, a especialização e a atualização constante de um médico.

São vários os fatores que contam para garantir que médicos tenham condições de oferecer serviços de qualidade. Nesta semana, os ministérios da Educação e da Saúde anunciaram uma medida voltada para avaliar os cursos de medicina: o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed). Ele será realizado anualmente com todos os concluintes de cursos de medicina no país.

Apesar de o objetivo ser avaliar a qualidade do curso, não especificamente o aluno formado, o resultado individual do exame poderá ser utilizado como critério de ingresso em residências médicas. Portanto, além dos concluintes do ano, médicos já formados que desejam disputar uma vaga de residência também poderão participar da prova.

Utilizar o exame como parte do processo seletivo para residências é estratégia acertada, pois incentiva os concluintes a buscarem um bom desempenho. Nesse quesito, o Enamed se diferencia do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), aplicado a cada três anos para avaliar os cursos de graduação, em que não há estrutura de incentivo atrelada ao desempenho do aluno. Com foco em conhecimentos específicos da área, o Enamed deve gerar dados valiosos para avaliar a formação médica no país.

Ainda assim, o Enamed não é uma certificação: mesmo quem tiver um desempenho ruim poderá exercer a profissão. Ou seja, embora o novo exame represente um avanço no processo de avaliação dos cursos de graduação, ainda há um longo caminho para garantir que todos os novos médicos tenham uma formação adequada e estejam aptos a atuar com excelência.

A forte expansão de cursos de medicina nas últimas duas décadas tem, por um lado, o objetivo de suprir a carência de médicos, especialmente em regiões mais remotas. Por outro, essa expansão nem sempre veio acompanhada de qualidade no ensino. Dados recentes do Enade revelam que 27,3% dos cursos particulares e 6% dos cursos públicos tiveram desempenho insatisfatório. Há muitos médicos se formando sem ter aprendido o mínimo necessário.

A discussão sobre uma certificação médica já existe no Brasil, como a proposta de um exame de proficiência nos moldes da OAB para o direito. E não seríamos os primeiros a adotar esse tipo de exame. Nos EUA, além de um exame ao fim do curso, os médicos precisam manter sua certificação por meio de educação continuada e provas de recertificação periódicas, geralmente a cada dez anos.

O Enamed tem potencial para aprimorar a avaliação da formação médica, mas é apenas um passo. Para garantir que médicos bem preparados e atualizados cheguem a todas as regiões do Brasil, será preciso um compromisso contínuo com políticas públicas que aliem qualidade no ensino, mecanismos de certificação profissional e incentivo à fixação de médicos onde mais se precisa deles.


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Fonte ==> Folha SP

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